O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Consumatum Est

Deu no Correio da Cidadania:

Ainda em 2006, depondo diante do Congresso americano, o embaixador americano Zalmay Khalizad foi taxativo: “Não temos nenhum objetivo de estabelecer bases permanentes no Iraque”.
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Com isso, desdenhou a opinião pública americana que, nas últimas pesquisas, contestara a Ocupação por 66 a 22%. Fez-se surdo ao clamor das massas dos demais países, enrouquecidas de tanto vaiar o presidente americano por sua ação no Iraque, apoiada somente por Israel - por razões óbvias- e pela Albânia – talvez um caso de síndrome de Estocolmo, adquirida durante o brutal regime de Enver Hodja.
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No Iraque, os protestos foram gerais, mesmo os dos políticos aliados.

Recém-chegado de Washington, onde fora fazer lobby no Congresso contra a retirada imediata das tropas, Mowaffak al Rubaie, conselheiro especial do primeiro-ministro Maliki, assegurou que os planos americanos de "permanência até o Dia do Julgamento Final” eram inaceitáveis. “Seria um casamento forçado para o qual esqueceram de avisar a noiva”, acrescentou.
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Mas Bush não deu a mínima. Em fins de novembro, ele e o primeiro-ministro Maliki anunciaram um acordo estratégico que punha uma pá de cal na controvérsia sobre a retirada das forças de ocupação. Dispunha que, em fins de 2008, o exército americano passaria suas funções para os iraquianos. Cerca de cinqüenta mil soldados permaneceriam ad aeternum em 4 mega-bases, para proteger o governo e a democracia do Iraque contra agressões internas ou externas. Em troca, o governo iraquiano se comprometia a favorecer os investidores americanos - leia-se, as companhias de petróleo.
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O preço pago pelo povo americano foi alto: cerca de 3.900 soldados mortos, 25 mil feridos e cerca de 1,3 trilhão de dólares (gastos projetados pela Comissão Mista de Economia do Congresso). Para Bush, barato, diante dos lucros gigantescos vislumbrados.
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Com os 50 mil soldados nas bases, Washington teria força para garantir os contratos petrolíferos e também enquadrar o governo iraquiano, sempre que contrariasse a política externa americana. E assim o Iraque poderá se tornar um protetorado dos Estados Unidos.
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Refletiram a opinião do povo. Pesquisa recente da ABC/BBC mostrou que 78% dos iraquianos acham que as o país vai mal, 47% apóiam a retirada imediata das tropas , 79% se opõem à presença da coalizão e 57% apóiam a violência contra elas.
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Em julho de 2008, o acordo estratégico seria convertido em tratado, incluindo detalhes como número de soldados e os privilégios às empresas americanas. Previamente, teria de ser aprovado pelo congresso iraquiano, que costuma ouvir a opinião pública.
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Não se pode negar que foi um lance brilhante, capaz de fazer Bush emergir vitorioso do pântano da guerra do Iraque.
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Sem tratado, Bush ficaria a pé, legítimo lame duck, sem influência na eleições presidenciais. Esperando ansiosamente pela hora de se retirar para as doçuras do seu rancho no Texas.
Luiz Eça é jornalista.
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1175/51/

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